Recentemente a Hashdex anunciou o lançamento de seu quinto ETF, denominado WEB311. O ativo em questão investe nas principais plataformas de smart contracts, visando exposição à Web3. Mas o que seria, de fato, essa Web3?
Uma breve história no tempo
A primeira geração da internet, então denominada de Web 1.0, teve seu desenvolvimento entre 1990-2004, onde era dominada por sites estáticos sem interações entre usuários. Com isso, quem acessava os sites eram apenas consumidores de conteúdo, levando a Web1 a ser chamada também de read-only web.
A partir de 2004/2005 até os tempos atuais, tivemos a evolução para a Web 2.0, também cunhada de read-write web. Nela, vimos o surgimento das plataformas de mídias sociais (i.e., Facebook, Twitter, entre outros) tendo o papel de intermediários, compartilhando conteúdos e permitindo o engajamento entre usuários. Além disso, a segunda geração da internet foi pioneira no modelo de receita via ads. Isso se deu pelo incremento de pessoas online, fazendo com que as principais companhias se tornassem detentoras dos valores gerados a partir da web. Assim, fomos de consumidores de conteúdo para criadores de conteúdo, porém, sem o benefício de ser dono do que produz e consequentemente sem ter o provento dessa monetização.
O surgimento da terceira geração
Com o dilema criado pela Web2 (controle e centralização das grandes empresas), urge a necessidade de criação de uma nova era. “Web3 is the internet owned by the builders and users, orchestred with tokens”. Assim, além de nos tornarmos criadores, também somos considerados donos de conteúdo. Passamos então para uma nova denominação, a read-write-own web. Portanto, a nova infraestutura de internet baseada em blockchain seria o estopim para a disrupção.
“Web3 is about power. It’s about who has control over the technologies and applications that we use every day. It’s about breaking the dynamic that has shaped the last decade of the web: the tradeoff between convenience and control.” Logo, o que temos hoje é um movimento de reformulação, e não de revolução. Por isso, precisamos entender a Web3 como a mudança dos paradigmas atuais, sendo desenvolvida através de novas tecnologias capazes de reestruturar a internet como um todo.
Adoção aos criptoativos e a busca por conteúdo
Para ilustrar que vivemos em uma nova era de disrupção, precisamos entender o que nos trouxe até aqui. Atualmente, a principal comparação entre a adoção dos criptoativos se dá com outros avanços tecnológicos (há quem compare a rede Ethereum com uma gigante AppStore), porém principalmente com a internet. Estima-se que nos dias atuais existam em torno de 990 milhões de investidores no mundo cripto.
Com o surgimento de novos termos, como blockchain e metaverse, os investidores começaram a buscar conteúdos que os incluíssem. Para trazer evidências sobre isto, desenvolvemos uma aplicação em Python para mostrar as recentes pesquisas ao redor dos temas do mundo cripto.
Entrando na Web3
Diante do apresentado, podemos sintetizar que a web3 vem como uma alternativa à atual geração da internet, tendo seu principal destaque com a infraestrutura de blockchain, juntamente com a promessa de descentralização. Além disso, algumas características interessantes estão relacionadas às questões de creator’s economy, permissionless, propriedade digital, governança/confiança, composabilidade e interoperabilidade.
Ao se tratar de creator’s economy, ressalta-se uma das principais diferenças entre a segunda e terceira geração, a monetização direta do criador de conteúdo. O dinheiro que vemos hoje, não está de fato na internet. Com isso, a tecnologia de blockchain se faz necessária, uma vez que as redes são globais, substituem os intermediários financeiros (diminuindo os custos operacionais), além de serem abertas e programáveis, possibilitando que qualquer pessoa/empresa possa se conectar à rede para receber/enviar pagamentos, conceito este que está diretamente ligado com permissionless, onde todos tem acesso a web3, sem exclusão.
No que diz respeito à propriedade digital, vemos as NFTs como uma poderosa ferramenta de ownership (e não apenas como JPEG de macacos entediados - mas isto será um tema abordado mais pra frente), gerando um senso de exclusividade. Através delas temos a representação de um direito sobre algo, sendo um “comprovante” de propriedade.
Sobre governança/confiança, a web3 se define como trustless, uma vez que não necessita de um intermediário. Deste modo, ela opera através de incentivos aos seus usuários, produzindo uma economia circular de atração, gerando também um sentimento de pertencimento à comunidade.
“Composability is the ability to mix and match software components like lego bricks. It means every software component only needs to be written once, and can thereafter simply be reused.” Assim, temos que a forma colaborativa em que a web3 está inserida (open source) é um ganho enorme de produtividade, visto que todos colaboram visando resoluções dos problemas.
Por fim, a interoperabilidade se dá na capacidade de integração entre plataformas, permitindo o compartilhamento de dados, desenvolvendo ainda mais o conceito de economia digital, fortalecendo um futuro de cross/multi-chain.
Centralização x Descentralização
O principal debate da web3 está vinculado aos conceitos de centralização e descentralização. A crítica diante das plataformas centralizadas se dá pelo seu ciclo de vida previsível, limitando a inovação tecnológica e freando a etapa disruptiva.
Isto ocorre devido à busca por estimular os efeitos de rede das companhias, visando fortalecer seu bem/serviço, dado que o mesmo irá depender da utilização dos usuários.
Desta maneira, as plataformas irão se comportar de acordo com a curva S, aumentando seu poder sobre os usuários e intermediários. Assim, a terceira geração da web busca ser uma tentativa de dar mais autoridade aos seus participantes.
Por conta disso, a descentralização tornou-se o Santo Graal por trás da web3, já que o controle estaria distribuído entre os usuários, trazendo em voga a prerrogativa da criação de uma comunidade unida e desenvolvida.
The dark side of the Web3
Porém, viver de narrativas não é o suficiente. As críticas à web3 são advindas principalmente das suas próprias características, visto que ela não estaria cumprindo com seus objetivos básicos.
“Decentralization is a hollow idea, a smoke screen to hide that the Web3 community has no answers to questions of fairness or even monopolies”. A web3 desenvolvida até aqui já atua de maneira centralizada, existem poucas exchanges de compra/venda de tokens, poucos marketplaces de NFTs. Assim, temos que ter em mente que ainda existem muitos desafios a serem solucionados.
Ademais, temos também a barreira tecnológica. A grande discussão das blockchains se dá pelo trilema que elas enfrentam: segurança, escalabilidade e descentralização. Deste modo, seria possível ter uma infraestrutura que transcendesse os problemas atuais, sendo benéfica a todos os usuários? Vale ressaltar que a rede Ethereum enfrenta essas questões há tempos e ainda não foram resolvidas. Talvez a mudança de Proof-of-Work para Proof-of-Stake seja realmente uma das alternativas, mas ainda é cedo para cantar vitória.
Ainda tendo em vista a questão do ganho de escala, temos um problema que se relaciona com desafios climáticos, uma vez que a mineração dos criptoativos requer grande poder computacional, consumindo grandes quantidades de energia.
Por fim, temos também a questão (a)política envolvida, já que o benefício de estar em comunidade é uma questão central. Consequentemente, a neutralidade obtida se torna um fator distorcido, visto que a política é feita de debates entre interesses distintos em prol da evolução.
Considerações finais e o que esperar para o futuro
Contudo, temos que entender que as inovações tem seu comportamento em ciclos. O que vivemos hoje está diretamente ligado ao hype produzido por novas tecnologias e a busca incessante por informações.
Assim como vivemos o estouro da bolha da internet no início dos anos 2000 e sua posterior evolução para algo essencial nos dias atuais, é possível (e talvez até provável) que vivenciaremos isso também através da web3.
Dessa forma, o tempo atual é de cautela e de observação, para assim podermos avaliar as mudanças de paradigmas oferecidas. “The best way to predict the future is to create it.” – Abraham Lincoln.